Mudança de tom
Mudança de tom
Resumo
- Como uma pomba: Fed mantém postura de estímulo monetário por muito tempo, mas não convence o mercado;
- Como uma falcão: Bacen encerra ciclo de cortes na SELIC e promove aumento agudo na taxa de juros;
- Radar do mercado: temas e eventos para ficar de olho.
Estados Unidos
Como uma pomba
O evento internacional mais importante da semana para os investidores foi a decisão de taxa de juros do Fed, na qual o banco central americano manteve o índice no patamar entre 0% e 0.25%.
Sem novidades nesse sentido, uma vez que a manutenção dos juros já era esperada pelo mercado. O que o mercado esperava era uma manifestação clara da instituição a respeito dos temores relacionados a um forte aumento da inflação no país. A respeito disso, o comitê de política monetária reafirmou que os juros devem continuar próximos de zero até 2023, mesmo com um aumento do nível de preços no curto prazo.
O foco do Fed, conforme demonstrado no comunicado após a decisão, continua sendo o de dar suporte à economia dos Estados Unidos para que ocorra uma recuperação vigorosa e sustentável. Por isso, o banco central americano tem mantido uma postura “dovish” (do inglês “dove”, que significa pomba e indica estímulo monetário).
Apesar do esforço do Fed, é necessário que os investidores comprem o discurso do banco central, algo que aparentemente não ocorreu no decorrer da semana. O mercado de títulos de renda fixa do país têm passado por forte estresse e um movimento agudo de venda desses ativos. Além disso, alguns resultados econômicos referentes a fevereiro – como vendas no varejo, construção de casas e produção industrial – vieram fracos e contribuíram para um mau humor nos índices de ações do país:
- S&P 500: o principal índice americano caiu -0,77% no período;
- Dow Jones: o índice das maiores empresas dos Estados Unidos teve queda de -0,46% na semana;
- Nasdaq: o índice das empresas de tecnologia do país caiu -0,79%.
Brasil
Como um falcão
Se nos Estados Unidos o Fed é generoso com estímulos e promessas de juros baixos, no Brasil o cenário é diferente. Depois de seis anos, o Banco Central elevou a SELIC, como era de se esperar, mas o tamanho do ajuste surpreendeu parte do mercado: de 2,00% para 2,75%.
O anúncio surpreendeu porque o Bacen fez intervenções pequenas no ciclo de cortes, mas a situação atual do Brasil parece ter demandado um aumento mais rigoroso na taxa de juros.
No momento em que a inflação está acima de 5% e a SELIC abaixo de 3%, o juro real – diferença entre a taxa nominal e a inflação – é negativo. Isso significa que o simples ato de reter dinheiro sem investi-lo representa perda do poder de compra do indivíduo. Isso é ainda pior em um país passando por dificuldades econômicas, como o Brasil, que enfrenta no momento um avanço significativo da pandemia e fragilidade das contas públicas.
No comunicado após o aumento da taxa de juros, o COPOM adotou uma postura “hawkish” (do inglês “hawk”, que significa falcão e indica aperto monetário), destacando que o cenário é de incerteza para a economia do Brasil no primeiro semestre deste ano e que as medidas de inflação estão acima do desejado para que o Bacen cumpra a meta do indicador para 2021.
O comitê também afirmou que esse aumento abre um processo de normalização parcial da política monetária e que um novo ajuste deve ser esperado para a próxima reunião.
A SELIC em torno dos 2% está com os dias contados.
Bolsa de Valores: O Ibovespa fechou a semana em alta de +1,81%, a 116.220 pontos. O dólar perdeu força frente ao real no período e fechou cotado a R$ 5,49.
Radar do mercado
Para ficar de olho
Brasil
: Na próxima semana será divulgada a ata do COPOM, que trará mais detalhes sobre a visão do Banco Central após a última elevação da SELIC.
- Mundo: Mais uma bateria de dados da economia americana domina a agenda da próxima semana, como PIB do quarto trimestre/2020, PMI industrial e pedidos de bens duráveis.
Sobre o autor
Lucas Barroso
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